
Se você está vendo essa imagem criada por inteligência artificial, pode ficar tranquilo: nenhuma das fotos que entrego foi inventada. Eu vi cada uma dessas cenas acontecer diante de mim. De verdade. Com sangue, com grito, com lágrima e com silêncio. A imagem acima foi criada por IA propositadamente, não puramente para entrar numa tendência de moda gerada para gerar engajamento, mas para eu fazer uma reflexão.
A IA pode até conseguir criar bebês cor-de-rosa; quartos impecáveis, perfeitamente arrumados e limpos em um nascimento; e pais perfeitamente emocionados, como em uma cena dirigida em um filme ou novela. Mas ela, a inteligência artificial, não sente o cheiro forte de corpo em esforço. Não vê a pele arrepiar quando o choro começa. Não escuta o som que o ar faz quando volta pro peito depois de minutos de espera.
Quem fotografa nascimento precisa aguentar, e saber, ver dor e beleza ao mesmo tempo, e continuar firme. Precisa segurar o disparo quando a vontade era largar tudo e chorar junto.
Num cenário real de parto, eu não posso ser presença percebida. Preciso ser sombra. Andar devagar, respirar baixo, existir só o suficiente para documentar sem atrapalhar. E é por isso que quase ninguém me vê. Nem nas fotos. Ou em outras postagens.
Muita gente pergunta por que não apareço mais no meu próprio trabalho. A resposta é simples: porque quem fotografa parto de verdade não busca palco; busca emoção, busca sentimento, busca afeto, busca verdade.
A IA pode até falsificar emoção. Mas não sua mão. Não o seu brilho no olhar. Não a emoção que fez aquela lágrima rolar. Não sua voz embargada. Não seu estômago revirando quando o bebê nasce e o mundo para por um segundo.
Enquanto eu continuar tremendo por dentro toda vez que isso acontecer, sei que estou no lugar certo, e que nenhuma máquina vai saber o que é isso.